A cidade – Tânia Nitrini

As cidades são espaços privilegiados de
permutas, de vivências coletivas. É o território dos encontros e desencontros mediados pelas palavras, pelas imagens, enfim, por tudo que esteja carregado de significados. “Mario Quintana, o nosso centenário poeta, diz: Olho o mapa da cidade, como quem olhasse a anatomia de corpo, é nem que fosse meu corpo”. Assim, temos o testemunho poético de que as cidades são vivas, com coração, pulmões e cérebros, sentimentos. Pensá-las e senti-las nem sempre está no horizonte de todas as pessoas. Só os artistas, os poetas e os que exalam sentimentos podem ler nas entrelinhas e escutar os seus sonidos. .
No frenesi do mundo moderno fica inaudível o pulsar do vento porque os humanos são impulsionados pelas mercadorias, por isso são incapazes de exercitar os seus pertencimentos. Envolvem-se no consumir produtos e vão perdendo um pedacinho do que foram – olvidando a perspectiva do que poderiam ser. O melhor de si se esvai na poeira das ruas e nos anúncios luminosos. São reificados e coisificados deixando para trás as suas origens e maltratam as cidades num ritmo esquizofrênico de chegar primeiro a lugar nenhum. Walter Benjamim, o filósofo das metáforas, no meio da barbárie das perseguições nazistas escreve: Quando eu estiver velho, gostaria de ter no corredor da minha casa / Um mapa de Berlim / Com uma legenda / Pontos azuis designariam as ruas onde eu morei / Pontos amarelos, as ruas onde moravam minhas namoradas / Triângulos marrons, os túmulos / Nos cemitérios de Berlim onde jazem os que foram próximos a mim / E linhas pretas redesenhariam os caminhos / No Zoológico ou no Tiergarten / Que percorri conversando com as garotas / E flechas de todas as cores apontariam os lugares nos arredores / Onde repensava as semanas berlinenses / E muitos quadrados vermelhos marcariam os aposentos / Do amor da mais baixa espécie ou do amor mais abrigado do vento.
Tânia Nitrini pinta a cidade nas suas múltiplas facetas com pontos azuis penetrando no âmago de cada ser humano no seu percurso e no seu imaginário. Mas, Tânia é um ser humano especial, daqueles que não esqueceu as suas origens e a busca incessantemente. Longa é a arte, breve é a vida é uma máxima milenar que ecoa nos tempos.
Tânia para você muita vida porque a sua arte já está eternizada.

Ivone Bengochea, professora de Filosofia na Faculdade São Judas Tadeu, em Porto Alegre, especialista em Filosofia Política,  Coordenadora da ONG PENSARE www.pensareedu.com


TEXTOS:

"Diálogo colorido" - Luiz Fernando Câmara Vitral

"Sobre minha pintura" - Tania Nitrini

"Cidarta" - Enock Sacramento